SOU(L)

Na parede da minha alma tem um quadro colorido que faz toda diferença. Traz beleza, é meio disforme, tudo bem, mas é justamente esse não-encaixe que encaixa. É um mosaico, com peças raras e digno de estar pendurado no lugar mais nobre de mim. Tá certo que eu nunca soube cuidar dele direito, desgastei algumas peças essenciais, perdi boa parte do colorido delas e deixei ele meio cinzento ultimamente. Nem percebi empoeirar, peças insubstituíveis que descolaram por puro descuido. Enfim, soprou um vento forte aqui dentro um dia desses e levou embora aquilo que estava penso e meio fraco. Arrancou mesmo, foi uma limpeza dessas que a gente não planeja, mas que a vida providencialmente traz. Me vi sozinha. Passei um tempo comigo (sei lá, as coisas mais profundas não estão muito submetidas à cronologia fria, estranho falar de "quanto tempo" fiquei assim), retirada, seguindo o acordar-trabalhar-dormir, esperando passar o medo de olhar para...

Ah, quer saber? Vai, aproveita, gasta tudo isso que você tem aí dentro. Incrível, gastando tudo você vai mesmo é conseguir o dobro! No seu peito, essa força de vida que quer explodir e em vão por aqui fica. Fica assim, amarrada na rotina e apertada no fundo do copo da saudade de todo dia. Ah, vai! Você que nesses olhos cor de mundo tem a capacidade de enxergar lá no fundo, no sulco de cada um de nós que te amamos, merece ver as mais lindas paisagens e ser cumprimentado por pessoas mais educadas que essas aqui. Aliás, por falar em educação, peço desculpas em nome de todos aqui pelo egoísmo de desejar que você não se ausente. Vai sim, espalha sua beleza de ser gente de verdade em outro lugar, e colecione pessoas que sintam uma saudade rasgante de você - assim como eu já to sentindo. Como disse ontem, "até daqui a pouco". Eu te amo muito, meu amigo querido.