SOU(L)

Quinta-feira, sete da noite, cidade fervendo de gente pra lá e pra cá. Eu no carro, saindo do trabalho. Os dois estavam no meio da faixa de pedestres, e pararam para tirar uma selfie. Eu, com o carro parado, esperando os pedestres apaixonados atravessarem, contemplava a cena. Em um milésimo de segundo, enquanto esperava, pensei: “Tire a foto, moça. Tire mais de uma... Abrace, beije, ria com ele, moça... Se eu tivesse meu querido aqui, agora, ao meu lado... faria exatamente a mesma coisa que você. Não me importaria com mais nada ao meu redor, só com ele, só com ele e com ele...”. A alegria deles era mais barulhenta que o trânsito de São Paulo. Eles finalmente completaram a travessia e foram embora, acenaram me pedindo desculpas sem se importar muito. E eu segui minha viagem, com inveja daquele amor e com o coração cheio de vazio. "Sobra tanta falta..."

Tenho um "caderno de bordo", e encontrei isso nele. Bem importante: "De tanto pensar, fundi os miolos hoje. Tenho meu cérebro emocional que nunca desliga, sabe? Ele tá ligado em você, nas coisas que você me falou e me fez sentir. A lógica do meu cérebro-coração é maluca, própria... Fica repassando momentos e conversas, além de imaginar o que poderia acontecer num futuro surreal. Eu e você, que loucura. Fico me forçando a pensar que foi só um deslize e que já passou. Mas daí o coração bate em protesto, me jogando na cara as memórias que fez questão de guardar. Me sinto boba, e chata, e incoveniente, e tudo mais que não é legal. Mas não consigo parar minha mente que, antes que eu possa controlar, já está lá com você. Ainda tô sem saber o que fazer. E cada vez mais mergulhada no oceano que é você. Meu "você" virou "tu". Quando é que eu ia saber que isso ia me acontecer?"