SOU(L)

Aquela semana foi ótima, vivi impulsionada por toda aquela adrenalina e ansiedade de como seria o próximo ano, e essa coisa toda ainda era temperada com muitos ‘parabéns’ vindos de todos os lados (o vovô fez questão de contar à cidade inteira que eu tinha passado no vestibular, e que ia para São Paulo), confesso que o gostinho foi realmente muito bom. O único que não ficou muito feliz com tudo isso foi o Tales, meu namorado. E eu entendia um pouco do que ele estava sentindo, fazia muito tempo que estávamos juntos, foram nossos anos de colegial (ele sempre me ajudou com matemática e física: eu era péssima). Eu gostava muito dele já naquela época, e entrei num super dilema antes de decidir fazer a prova: se eu passasse, teria que me mudar, e isso ia acabar afetando nosso namoro. E todo mundo sabe que é muito difícil namorar à distância. Mas, enfim... decidi que iria fazer porque precisava lutar pelos meus sonhos, e ele poderia vir comigo se ele quisesse! Mas acho que as coisas não eram

- Passei!! Mal podia acreditar: meu nome estava lá, na lista de aprovados no vestibular! Tinha estudado tanto, eu não acreditava.... era real! Eu tinha conseguido! - Ta vendo, vó? Vô: meu nome ta aqui! Eu passei! Aqui: Sara Trovato! - Parabéns minha netinha preferida! Eu sabia que você ia ser aprovada, afinal essa inteligência toda deve ser herança do seu avô aqui né! O vô Matheus era sempre assim, bem humorado, até mesmo quando as coisas não davam assim tão certo. Mas naquele dia toda alegria dele só vinha coroar minha conquista, eu estava indo estudar em São Paulo! - Vem cá minha querida, dá um abraço na sua vó! Estou tão orgulhosa de você... Tenho certeza de que sua mãe está sorrindo satisfeita lá de cima por ter uma filha tão inteligente e esforçada como você! A vovó sempre lembrava da mamãe, principalmente nos momentos em que eu conseguia algo, ou em aniversários... Esse tipo de data em que todos estão felizes, e ela fazia questão de convidar a saudade a se juntar a nós. A mamãe m

Hoje li meus e-mails antigos. Descobri que o meu passado foi ora coberto de carinho, ora coberto de sentimentalismo. Foram tantos os amigos que joguei fora por não ser capaz de entender a profundidade da intenção. E tantos outros mantive perto e só perdi partes de mim no momento em que eles foram embora sem consideração alguma. Ouvi um conselho desses dias, e virei o espelho. Resolvi olhar a janela, onde a verdadeira riqueza da vida se faz presente. O mundo está lotado de pessoas especiais, mas elas não se gabam nem um segundo sequer por isso. Algo interessante acontece quando a gente resolve olhar para dentro de si mesmo: tudo parece perder o sentido, e tudo que se vê é mofo e velharia. Eu sou uma biblioteca desorganizada: livros não lidos por toda parte, troféus enferrujados, muito lixo, poeira e falta de luz. Foi isso que vi aqui dentro. Virei o espelho e vi que não dá pra refletir nada no verso, e percebi também que eu nunca olhei nos meus olhos. O que será que eles dizem?

Hoje vi um pouco do meu sangue escorrendo para dentro de uma bolsinha. Tão bonito... nunca tinha parado para pensar que meu sangue é vivo. Que a pessoa que espera por este sangue beba somente do que há de melhor nele. Que ela não absorva meus medos, minha covardia, meus enganos e indecisões. Que ela fique apenas com o que a minha humanidade falha traz de melhor. Que ela sempre cumpra o que promete, e que não se engane com as pessoas. Que ela não dê tanto valor ao dinheiro, e que não escreva coisas bobas de vez em quando... Que ela não confie em todo mundo que parece confiável, e que não precise chorar perante tantas perdas. Que este sangue que corria em mim possa acarinhar cada veia por onde correr, e que não seja em vão. Como nada nunca é. ** Eu, que sonhei ser a colecionadora de livros, acabo colecionando derrotas.

"Carpe Diem é uma frase em Latim de um poema de Horacio , e é popularmente traduzida para colha o dia ou aproveite o momento. É também utilizado como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro." Até que ponto funciona aquele negócio de "aproveitar o hoje como se fosse o último"? E se eu quiser hoje ter um filho, hoje comer cinco quilos de chocolate e ser uma escritora famosa? Mas, e se amanhã - que será meu próximo hoje - eu quiser ficar livre de qualquer compromisso, ser uma atleta e cantar? Complicado... Tem muita gente vivendo pelo prazer do hoje, por aquilo que se constrói em um segundo, e andam deixando o velho costume de fazer planos e sonhar com algo maior para suas vidas. Tudo isso causa nas pessoas um sentimento de tristeza, de vazio... Porque essas coisas todas são momentâneas, e não doam a felicidade que precisamos ao conseguí-las. Façamos planos, vivamo

Às vezes sinto seu cheiro. Às vezes lembro da sua presença, aquela coisa calma e tão real que dava até vontade de pegar na mão para saber o formato. Esses dias lembrei de suas lágrimas. Tudo em você tinha cheiro de dor, de cansaço e - que coisa estranha - serenidade. Lembrei daquelas suas lágrimas num momento feliz, numa dessas celebrações do amor que as pessoas promovem por aí e para a qual fui convidada. Ele estava chorando, estava feliz e emocionado. Sei que aquelas suas lágrimas eram de dor, mas o jeito me remeteu àquele banco, aquele lugar tão rústico. Todas as lembranças que tenho de você estão guardadas aqui, como fotos num álbum. O interessante é que elas me aparecem de vez em quando, como flashes, me fazem sentir uma saudade terrível. Uma saudade parecida com aquela que a gente sente das coisas que sabemos que não voltam nunca mais. Minha saudade dói, porque sei que essa pessoa de quem sinto falta, na verdade, nunca existiu. Foi um produto da minha fértil imaginação. O que me

Olha só, que lindo Seus olhos fechados Parecem enxergar tudo que há em mim Olha só, que claro Para eles, o mundo inteiro Parece puro e sincero, sem nada a temer Mas veja só, que estranho Você cresce e percebe O quão ruim as pessoas conseguem ser Agora você vê, que triste Minha tristeza sempre presente E que não me larga, que não te deixa me invadir E peço, por favor Que minha tristeza não te aconselhe A não mais acompanhar A escuridão deste olhar, A amargura de ser E a esperança de tudo isso um dia passar...

Hoje em dia temos carros, motos, aviões... Tudo parece passar mais depressa, ser tão mais simples. China hoje? É só comprar, uma questão de horas e ares. Nosso mundo ficou mais acessível, simples de ser ver, dá para imaginar o 'todo' sem esforços ou muita imaginação. Ele parece simplório como nunca visto. Mas continua impossível de compreendê-lo ainda assim. ** Vai aqui a letra de uma música que gosto muito, da Luciana Mello, 'Coisas Fáceis' Coisas fáceis, fazer um agrado Coisas fáceis, abrir um sorriso Coisas fáceis, estender os braços Coisas fáceis, agir com juízo Coisas fáceis, mostrar o caminho Coisas fáceis, dizer a verdade Coisas fáceis, cuidar com carinho Coisas fáceis, viver com vontade São coisas pra se fazer Sem esperar recompensa São coisas pra se querer Coisas tão simples E tão difíceis de esquecer Um abraço, um sorriso, um aceno Coisas fáceis Gestos tão pequenos Coisas fáceis

Se eu precisasse explicar como foi 2008 para mim, eu o compararia a um professor de matemática, bem velho, rabugento e exigente: daqueles que fazem você aprender na marra, e que você fica com tanta raiva e acaba tirando 10 na prova final e torcendo para se livrar dele logo. Bom, de qualquer maneira, pelo menos aprendi. Espero que 2009 seja um vovô sábio, daqueles que sabem a hora exata de te dar uma bronca, bem como te dar aquele abraço apertado. Feliz Ano Novo!