É... uma mulher.

Este conto é algo que não se pode definir como continuação de algum outro, ou o fim de alguma história. Ele simplesmente é, acontece, flutua por aí como as folhas que caem lá do alto - secas - no outono.

Creio que vocês estejam lembrados da garota. Ela continua na história, digo, em outra história, enfim... contemos aqui a história da garota. Assim, apresento-lhes um outro personagem.

Desta vez não foi um garoto, nem um príncipe ou um anjo. Desta vez foi um homem. Mas deixe-me descrevê-lo: ele era alto, bastante alto, daqueles que se você chegar lá no topo, consegue ver como é profundo, como um poço que não permite que se veja o seu fim. Tá, ele tinha uma aparência agradável, sim.. mas nada como seus olhos. Olha, eu dedicaria páginas e páginas descrevendo seus olhos... eram de uma cor não-talvez-quase-sempre-sim inacreditável... verdes, mas castanhos; castanhos, mas também verdes... profundos e penetrantes. Eram bem calmos, tão calmos que de quando em quando ela acabava por entender que esta calma toda se traduz em mágoa. (interessante isso... ando percebendo que os olhos de quem carrega mágoas são lentos, fitam outros olhos como se procurassem desesperadamente uma cura, mas sem forças..).

Enfim, ele era um homem. E ela sentiu-se imediatamente acuada por isso. Pense: ela sabia lidar com anjos, com garotos e até mesmo com príncipes! Mas não com homens. Ela foi descobrindo que eles são até mais complicados do que dizem por aí...
Acabou descobrindo que aquelas mágoas que se vê no olhar dele são reais e muito recentes. Mas, conhecendo-a como conhecemos já era de se imaginar que ela não pensou duas vezes em querer transpor esta barreira, não é? Pois bem, assim o fez.

Antes de contar, vou dar-lhes um conselho: nunca entrem numa floresta depois que escurecer. Principalmente quando você não conhecer o chão por onde pisa.

Foi exatamente isso que ela fez. Entrou em teritório desconhecido, durante a escuridão da madrugada, e foi pisando fundo, deixando voar livres os seus sonhos e ilusões.
Acontece que esta floresta de mágoas era tão fechada, tão curvada que ela não conseguiu passar nem ao menos da primeira barreira... E o que a desesperava era que seus sonhos e ilusões já estavam longe, muito dentro da floresta para saírem sozinhos...

Não teve escolha, teve que sair. E saiu chorando, em prantos, porque para salvar sua vida, teve que deixar os sonhos e as ilusões para trás... Elas devem estar sendo esmagadas em todo aquele lodo de lágrimas que inundava a floresta... e os sonhos... ah os sonhos dela... devem estar voando sem rumo fora e muito longe dali... porque vocês bem sabem que onde há mágoas, não existe lugar para os sonhos, não é?

**

Conversei com ela um dia desses, e ela me disse que não conseguia conversar com ele sobre todas essas lutas e derrotas. Fiquei confusa, pois não faz parte da personalidade dela ser acuada desse jeito. Mas ela me explicou que os homens não compreendem esta linguagem das garotas.

Triste.. achei que era muito triste tudo isso.. E senti que ela precisava, de alguma forma, falar com alguém que pudesse compreendê-la. E perguntei: O que você diria para ele?

- Primeiro eu olharia bem naqueles olhos enigmáticos que ele tem. Ficaria assim por longos minutos... deixando a timidez e sem desviar. Depois eu diria que tenho sonhado com estes olhos há muito tempo, que parece que eles estão colados do lado de dentro das minhas pálpebras, de modo que todas as vezes que fecho os meus olhos, vejo os dele. Explicaria que quando ele me olha, tenho a impressão de que ele tira um raio-x da minha alma, e que não posso mentir, pois ele vê através de mim... "Já que não posso mentir, preciso lhe dizer que não pretendo fazer declarações de amor ou qualquer coisa do gênero, pois o que sinto é algo tão forte e racional que não cabe nestas palavras tão usadas por outros 'amores'... Eu preciso que você saiba que eu aprendi a esperar e a não fazer as coisas depressa, aprendi que com você não é assim que se lida. Vi que os menores e mais significantes detalhes são percebidos quando não há barulho, pressa ou ansiedade que encubra. Neste tempo, pude definir o que eu sentia de verdade. Sem erro e sem fantasias, eu cheguei à conclusão de que eu gosto mesmo de você, você sentindo o mesmo ou não. Quero estar perto de você, ouvir a sua voz e te ajudar no que for preciso. Não gostaria que você soubesse das minhas lágrimas e das minhas lutas comigo mesma para que eu tenha chegado até aqui e te falar isso como se tivesse sido fácil..."

Temendo e já sabendo o que ela ia me dizer em seguida, respirei fundo e tomei coragem para encarar aquela verdade, aquele fato que viria, naturalmente, uma hora ou outra na vida da garota.

- Esta parte eu não diria pra ele, mas digo só pra você, que me entende: dizem que grandes vitórias envolvem grandes perdas, não é? Pois a partir dele, eu decidi que são serei mais a garota dos anjos, príncipes e garotos... Serei mulher.

E assim acabou meu encontro com ela. Sua voz um pouco mais firme, olhos fixos nos meus e uma convicção notável naquilo que dizia. É... uma mulher.

Comentários

  1. Eu já falei q te amo?! Adoro as coisas q vc escreve.....Saudades de vc!!!! BJS

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